Um dia aparentemente como outro qualquer. Sol escaldante, um tráfego intenso de geringonças automotivas barulhentas e excessivamente poluidoras. Só ouço os ruídos do alarde causado pela platéia improvisada que me observa. Me parece que a atração sou eu, mas são eles que ocupam a avenida, eufóricos, barulhentos a tal ponto que me ensurdeceram.
Uma chuva de elogios molha a minha timidez e me desvio dos olhares atrevidos que vão e voltam como bumerangues. E o meu pensamento viaja longe.
Vou andando e batendo um papo com Deus. Afinal de contas o que é tudo isso? Essa platéia toda gritando essas coisas que não deveriam, mas que afetam diretamente o meu lado pessoal. Todo mundo gritando coisas que a gente sente falta de ouvir mas que quando vêem de bocas estranhas, chegam aos ouvidos sem sentido. Eu não queria uma platéia.
Os vestígios sonoros regaram os meus dias seguintes. Uma pontinha de orgulho e egocentrismo começa a molhar os meus pés como a água da praia quando vem em ondas. Eu queria ter ouvido tudo aquilo, mas dele. É ele que eu queria que gritasse pra mim, que me dissesse aquelas coisas, mas ele não estava lá. Era somente ele que eu queria mas ele não estava lá ...
Dias após ele me resolve aparecer. Como sempre, chega como quem não quer nada, ganhando espaço devagar, mas eu ainda o culpava pela sua ausência inconsciente. Me mantive na defensiva durante horas, mantendo uma pedra de gelo como barreira para me separar daquele desnaturado que todo o mal que fez foi não estar perto de mim quando eu queria.
O meu maior erro foi subestimar a capacidade que ele tem de burlar os meus bloqueios. Uma simples frase dita por ele e a platéia se calou. Me pareceu uma música, daquelas lindas que a gente ouve cinquenta vezes por dias. Ele veio me agradecendo por existir e isso é o tipo de coisa que vindo de qualquer outro me parece clichê, mas vindo dele era sinfonia. É incrível como esse garoto todo desajeitado consegue me ganhar tão fácil.
Ele me ganha todos os dias e não me dá o direito de escolha. Me ganha com sorrisos, com palavras curtas, com olhares. Não importa o que ele faça, ele ganhou o direito de ter a mim como um presente, de grego talvez, mas que não abre mão de pertencê-lo.
Um pouco mais tarde, bati outro papo com Deus. Dessa vez mais calma, mais branda, mais singela. Dessa vez não fiz questionamentos longos e cansativos, não o pertubei com a minha revolta e na verdade, eu nem queria obter uma resposta. Eu só queria alguém pra conversar e O proucurei. Depois de um tempo de conversa, eu não quis mais ocupá-Lo. Comecei a me despedir e fechei a conversa com uma pergunta que não cala: como pode existir tantos outros no mundo e o nosso coração insistir em bater por apenas um?
6 comentários:
Aos Poetas e Poetisas...
Poetas e Poetisas...
Nunca parem de escrever...
Quando paramos ...sucumbimos ao mundo...
Não podemos permitir que tamanha dor alcance nossas almas...elas merecem muito mais ...
Merecem fluir em meio às palavras...merecem encontrar à liberdade que o mundo não nos dá...
Sou dependente dessa liberdade ... ;) Obg pelo comentário . Volte sempre!
Nossa q lindo...
Admirada e encantada
Parabéns!
Ahhh eu tb me pergunto...como pode existir alguém com tamanho "dom"?!
Já tinha lido mas só agora vim comentar e mais uma vez parabenizar sua escrita que tanto me encanta Nat!Lindo texto!
Clarice, linda, que bom receber um elogio seu! Fiquei muito feliz! Volte sempre linda! Bjs
Yohana, o encanto é recípocro! Seu blog é uma manual se sobrevivencia pra mim rsrs vc é demais! Bjs
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