Era apenas o início de uma tarde chuvosa. Em plena luz do dia o céu resolveu chorar. Tamanha petulância! Chuva é coisa da madrugada. Nela, as gotículas tornam-se canções de ninar para embalar os sonhos. Chovia tanto que parecia mais uma reclamação do tempo. Uma manifestação impetuosa de desagrado pelo o que estava por vir.
Andando a passos curtos, conversas que não concluem nada. Era assim a cena. Duas meninas morenas atropelando a ordem das palavras sem muito interesse em organizar os assuntos.
Não demora muito e pessoas se aglomeram e ao olhar de longe vi que era confusão. Mais perto, pude ver o acontecido. Alguem possuído por insanidade acaba por levar a pior na batalha travada pela sociedade. Sangue ao redor, um buraco na coluna vertebral e muitos curiosos fazendo, inconscientemente, uma barreira de proteção.
Daí então eu percebi a ironia da natureza. Ela choveu só pra zombar do corpo. Só pra desbotar o vermelho do sangue. Ela não se contenta em perder a atenção. Quando chove sangue, ela se intensifica pra mostrar quem manda.
Daí se enxerga o quanto tudo é perecível. Tudo é dominado pela incerteza do próximo minuto. É o acaso que rege a orquestra, por vezes desafinada, e nos obriga a dançar conforme a música.
Em uma única tarde eu enxerguei todo o contexto da vida. Já que não se pode prever o que vem, temos que aproveitar o agora com tanta força que o amanhã se transformará em pequenas fantasias tipo aquelas que são criadas na cabeça das crianças.
Eu já não vivo mais em função do próximo suspiro. Vou viver de coisas que inspire ação, que traga inspiração.
No fim da tarde, o sol veio acanhado só pra dizer que veio. Aqueceu um pouco das almas assustadas e clareou um pouco mais os meus pensamentos. Ele confirmou que eles vagavam no caminho certo e me encorajou.
Hoje eu sei que pouco se sabe sobre o futuro. Eu, por exemplo, sei apenas que ele é finito e que um dia ele se encerra só por enfado, também pudera, qualquer um se cansaria de existir e nunca ser alcançado.
2 comentários:
Adorei Nat! O futuro é mesmo uma incógnita e a vida, frágil! Também por isso deveríamos extrair sim mais do presente...da melhor maneira! Adorei a forma e a missão que a chuva ganhou em sua crônica...bonita e justa! bjsss
Muito obrigada flor. Vc como sempre por aqui me doando a sua leitura! Continue voltando tá bom?! rs as portas estão sempre abertas pra vc ;) Bjos
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