sexta-feira, 26 de agosto de 2011

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COISAS DE MULHER.

 
Estou ficando expert nessa coisa de trocar, nesse hábito viciante que é substituir. Já é quase que uma mania minha. Na verdade, isso é mesmo coisa de mulher. Basta desatar os laços de um relacionamento e nós mergulhamos em baldes profundos de sorvete e brigadeiro. Talvez essa seja uma troca justa: o calor pela caloria.
Mas substituições nem sempre são fáceis pra nós. Já reparou que mulher compra pares e pares de sapatos novos mas sempre guarda os antigos? É a teoria da prevenção. Sempre achamos que podemos precisar em algum momento. É assim também com o amor. Substituir pra gente, dói e dá trabalho. É igual a número de telefone. Depois que todos os seus amigos já se familiarizaram, fica chato simplesmente chegar e dizer que mudamos. E ficamos assim. Com a sapateira cheia de amores mal resolvidos. Que nos causam calos e chulé.
E sabe quando fica mais difícil ainda querer trocar? É quando esse amor foi díficil, foi complicado. Quando tivemos que encarnar em nós uma agente 007 pra conquistar o dito cujo. É aí mesmo que o bicho pega porque pra nós mulheres, alfabetizadas e inteligentes que somos, homem errado é igual a erros "grotescos" de português: à primeira vista nos apavoramos mas depois ficamos perigosamente tentadas a consertá-los. E como fazer pra abrir mão desse amor vegetal, plantado dentro de nós? Não é fácil. Não, não é.
Pensando assim, começamos a fazer tudo errado. Ao invés de trocarmos o alvo, nós trocamos a nossa postura, atingindo apenas a nós mesmas. Insistimos no par antigo e continuamos alimentando esse amor insano. Nessa fase geralmente fazemos os maiores "emes" das nossas vidas. Trocamos a intocável dignidade por coisas menos estereotipadas, mais etílicas, menos plastificadas, e ficamos doídas pra um amigo em comum nos ver por aí com a tal máscara da felicidade, e contar no dia seguinte para o dono do nosso amor falido que ele está perdendo um mulherão, decidida, determinada. E bêbada.
Por que será que somos assim? Será da cultura, do genes? Deve ser coisa da alma feminina. A gente muda a nossa vida, a nossa rotina, e se deixar a gente muda até de mundo, só pra chamar a atenção e manter um amor que já não faz mais sentido. Coisa mesmo de mulher. É importante saber que alguns homens até gostam que a gente pise em cima deles, mas isso não os tornam sapatos. Não dá pra ficar guardando sentimentos que apertam o coração, porque depois - geralmente tarde demais - quando descobrimos quem de fato somos e o que podemos ser, a gente se pergunta porque ainda não tínhamos juntado tudo em uma sacola e doado a uma amiga mais necessitada.
Substituir é legal. Abrir espaço é legal. Aprenda uma coisa. O amor é azedo - se ele fosse doce, ao invés de apaixonadas, nós seríamos um bando de diabéticas - mas amar é preciso, então substitua por um amor menos amargo. Quando chegar alguém com um novo sabor, ele vai te agradecer por ter espaço suficiente pra ele se acomodar com conforto, vai por mim. É assim que acontece. Todas nós já ouvimos dizer que as pessoas são insubstituíveis e de alguma forma, isso acaba se tornando uma filosofia pra nós que nascemos pra ser sentimentais, mas quer saber? Preste bem atenção nas palavras seguintes, se você quer ser uma futura mulher de meia-idade bonita e sem as rugas da decepção: "quem foi que inventou essa história de que não se pode substituir pessoas? A verdade é que não deveríamos mas podemos. Podemos sim. Principalmente aquelas pessoas que nos causam dor."
Viu guria? Substituir às vezes, não é tão ruim assim.

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostei do jeito que escreve. Achei o texto divertido e amei a comparação ao texto errado de português rs
É bem assim mesmo.

Beijos =*

Yohana Sanfer disse...

Que bonito Nat! Maduro, franco! bjs